segunda-feira, 8 de abril de 2013

Deus e a dureza do coração de Faraó


Por Celso de Castro Costa

Deus ama toda a humanidade, deseja ter comunhão pessoal com todos os homens e não faz acepção de pessoas. Contudo, textos como Êxodo 7:3 e 4:21-23 poderiam levar alguém a dizer: “Como pode Deus amar todos os homens, se ele endureceu o coração de Faraó para que não libertasse o povo de Israel e depois acusou-o por não ter deixado o povo sair do Egito? Essa atitude de Deus não é incoerente? Não é uma injustiça divina? Por que Deus faz distinção entre ‘meu primogênito’, referindo-se a Israel, e ‘teu primogênito’ referindo-se ao filho de Faraó? Isso não é acepção de pessoas? Porque Deus disse que mataria o filho de Faraó por não libertar Israel, se quem o induziu a não libertar o povo foi o próprio Deus?”

Ainda dentro da linha de pensamento dessa argumentação, podem vir outros questionamentos: “Quem consegue resistir a Deus ou confrontá-lo? Se Deus sabe que é imbatível, por que razão endureceria o coração de Faraó? Ele faria isso para demonstrar seu próprio poder? Se essa era a intenção de Deus, isso não seria a marca do exibicionismo divino versus a impotência de quem possa resistir-lhe?” etc. De fato, à luz de da simples leitura dos textos de Êxodo mencionados acima, essas argumentações parecem ser bem razoáveis. Porém, sabemos muito bem, pelo caráter de Deus expresso pela própria Bíblia, que as idéias que norteiam os argumentos acima não se aplicam a Ele. Então, como entendermos as afirmações divinas nos textos citados?

Vamos iniciar fazendo uma diferenciação entre “Faraó-homem”, “Faraó-rei” e “Faraó-deus”. O primeiro é o ser humano natural, não regenerado pelo poder de Deus, que não compreende as coisas do Espírito de Deus, que é governado por seus impulsos naturais (1Co 2:14). Ainda que não saiba, esse home natural esta sob o domínio de Satanás. O segundo, “Faraó-rei”, era o administrador do Egito, o homem responsável pelo sucesso e prosperidade do reino sob sua responsabilidade. Ainda que estivesse firme em seu trono, alheio a opinião pública e não sofresse risco de ser destituído do cargo, como administrador, ele certamente não queria o surgimento de qualquer situação que comprometesse seu povo. O terceiro, “Faraó-deus”, era aquele homem considerado como um ser divino, de acordo com a mitologia do Egito. Portanto, um representante da potestade satânica que governava o Egito.

A partir do entendimento destas três funções de Faraó e de um estudo minucioso do texto sagrado, poderemos entender os textos citados e outros paralelos a eles. Então, facilmente concluiremos o óbvio: Deus não faz acepção de pessoas e Israel, apesar de ter sido escolhido por Ele, não era o único povo amado pelo Deus Eterno. É fato que a Bíblia que a Bíblia Sagrada registra, inúmeras vezes, a expressão “endurecerei o coração de Faraó” e outras análogas proferidas por Deus, como em Êxodo 9:12, 10:1, 20,27 etc. Entretanto, observamos no contexto que essa expressão sempre aparece acompanhada por expressões do tipo: “...saberão que eu sou o Senhor...” (Êx 7:5; 7:17; 8:22; 9:14; 9:16; 10:2 etc). É interessante notarmos que as expressões repetidas, quase à exaustão, são dirigidas a nação egípcia, ao povo de Israel e a todos os povos da Terra.

Diante dessas observações, fica claro que a visão salvadora de Deus alcança toda a humanidade, não se restringe a Israel. Mas, o que significa exatamente a expressão “endurecerei o coração de Faraó”? Que significado estava por detrás dela? A leitura, atenta, do texto e contexto onde a expressão se encontra deixa claro que:

1)  O Senhor Deus apresenta-se como o Deus Todo-Poderoso, e como o único Deus em toda a terra;
2) Os egípcios deveriam reconhecê-Lo como o Deus Todo-Poderoso. Diante das pragas, isso em parte ocorreu. Cito aqui algumas referências:
 a)  Os magos, líderes religiosos egípcios (na verdade eram feiticeiros), reconheceram isto (Êx 8:19);
 b) A população egípcia, em geral, reconheceu esse fato (Êx 9:20; 10:7); 
 c) Os estrangeiros que habitavam no Egito reconheceram. Alguns até acompanharam os Judeus em seu êxodo (Êx 12:38); e
 d) O próprio Faraó-homem chegou a reconhecer isso (Êx 8:8, 25; 9:27,28; 10:16,17).
3) O Deus dos israelitas é Todo-Poderoso e quer fazer-se conhecido em toda terra;
4) As oposições satânicas e mitológicas do Egito não poderiam suplantar o Soberano Deus. Na verdade, ferir o Nilo, enviar as pragas e culminar com a morte dos primogênitos era a mão do Deus Eterno sobre os deuses do Egito (Êx 12:12; Nm 33:4);
5) Os fatos que estavam se desenrolando no Egito, os que a eles se seguiram e a manifestação do poder do Deus Eterno naqueles episódios serviriam para fazê-Lo conhecido entre todas as nações. Quarenta anos depois, isso ainda era falado entre as nações (Js 2:9-11);
6) Aquela geração de judeus retirantes, que era testemunha ocular daqueles acontecimentos, deveria reconhecer o poder de Deus, honrá-Lo e contar Seus feitos a seus descendentes (Êx 10:1,2).

“Por que razão o Senhor Deus endureceria o coração de Faraó?”

Agora, vejamos a atitude pessoal de Faraó em relação a Deus. Se é fato inconteste de que o texto sagrado registra que Deus endureceria o coração de Faraó, também é inquestionável o registro de que Faraó endureceu-se, ou seja, Faraó estava predisposto a endurecer seu coração para não reconhecer a soberania do Deus de Israel. Inúmeros textos bíblicos respaldam essa afirmação. Por exemplo, o texto: “Mas Faraó disse: “  Quem é o SENHOR, cuja voz eu ouvirei, para deixar ir Israel? Não conheço o SENHOR, nem tampouco deixarei ir Israel” (Êx 5:2); e outros como: (Êx 7:14,22; 8:15,19; 9:35 etc).

Importante notar que o contexto que acompanha o endurecimento do coração de Faraó sempre registra a expressão “como o Senhor tinha dito”. Analisando detidamente essa expressão em seu contexto, ficam transparentes as idéias:

1) Revelação da presciência divina, isto é, o conhecimento antecipado que Deus tem dos fatos futuros;
2) Deus sabia que o coração de Faraó era obstinado, teimoso, duro, inflexível, Isso porque ele, como “Faraó-rei”, considerava-se o “todo-poderoso” do mundo, visto que o Egito era a maior potência mundial; e ainda, porque ele, como “Faraó-deus”, considerava-se uma divindade e por isso não reconhecia o Deus Eterno a ponto, debochadamente, perguntar quem era o Senhor;
3) A oportunidade que Deus dava a “Faraó-rei” para libertar o povo de Israel do cativeiro era, ao mesmo tempo, a oportunidade em que ele (Faraó) revelava sua obstinação interior como “Faraó-deus”. Então, facilmente podemos entender a expressão divina “endurecerei o coração de Faraó”. Era Deus dizendo: “Conheço o coração de Faraó e darei a ele a oportunidade de endurecer-se contra mim ao revelar publicamente seu coração obstinado”;
4) Deus valeu-se da própria obstinação de Faraó no desempenho de suas funções de “Faraó-rei” e “Faraó-deus”, para alcançar os objetivos que enumerei anteriormente nos pontos 1 a 6. Note que nos pontos ali listados ressalta-se sempre a visão divina em relação a humanidade;
5) Por trás das expressões “meu primogênito” e “teu primogênito” do texto de Êxodo 4:21-23 fica claro que o entendimento de que se tratava de descendências no campo espiritual. “Meu primogênito” referia-se a Israel, como representante da filiação divina do Deus Todo-Poderoso e de onde viria o Salvador de toda humanidade, enquanto “teu primogênito” referia-se ao filho de “Faraó-homem” como representante da filiação satânica de “Faraó-deus”.

Diante do que a Bíblia claramente nos revela, fica firmemente provado que Deus nunca fez ou faz acepção de povos ou de pessoas. Mas ainda, que Sua visão salvadora alcança toda a humanidade. Portanto, do que textualmente analisamos, podemos inferir duas grandes conclusões:

1) Aquele episódio que estava em curso no Egito tratava-se de um embate titânico entre duas forças antagônicas, a saber: a descendência divina e a descendência satânica. Deus manifestou-se em favor da primeira.
2) O que estava por trás da expressão “endurecerei o coração de Faraó” não era um exibicionismo divino. Ao contrário, era a manifestação do amor do Todo-Poderoso para fazer-se conhecido na História e alcançar todas as nações da terra. Era a onipotência do Deus Eterno diante da impotência dos deuses egípcios.

Fonte: Jornal - O mensageiro da paz (CPAD)

Celso de Castro Costa é pastor, líder da Igreja Evangélica Assembléia de Deus em Dr. Augusto de Vasconcelos (ADAV), Campo Grande, Rio de Janeiro (RJ).       

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